domingo, 19 de janeiro de 2014

Oscar 2014 - Crítica: O Lobo de Wall Street


O Lobo de Wall Street vem fazendo grande sucesso nos EUA e causando barulho entre, digamos, os mais conservadores. Dirigido por Martin Scorsese e escrito por Terence Winter (das séries Família Soprano Boardwalk Empire), o filme conta a história real de Jordan Berlfort, um corretor de títulos da bolsa norte-americana. Durante o dia ele ganhava milhões de dólares por minuto, e durante a noite gastava com sexo, drogas e viagens internacionais. Dinheiro, poder, mulheres e drogas nunca eram suficientes. Porém, suas artimanhas e a vida corrupta levaram-no para a prisão.

Mas não pense que a sinopse entrega o filme todo. Com 3 horas de duração, o que vemos é uma narrativa ágil, inteligente, insana e sem nenhum pudor. E se parte do público se incomodou com o aparente incentivo a uma vida regrada à drogas e sexo, um olhar mais atento pode perceber que Scorsese não só joga os fatos para que o público lide com todas as situações, como também coloca cenas que, sutilmente, acabam julgando as ações das personagens, mesmo que essas cenas venham seguidas de risadas. Nós rimos, mas deles.


Trabalhando com Scorsese pela quinta vez, Leonardo DiCaprio entrega uma personagem absurdamente bem construída. Seu talento para comédia já havia sido explorado em outros filmes, mas, aqui, ele se mostra inspiradíssimo e extremamente à vontade em seu papel, muito pela sintonia entre ele e o diretor. Entregando um sociopata impressionante, DiCaprio começa inseguro, sempre hesitando em suas falas, para depois se transformar em um sujeito incapaz de sentir remorso por mais de alguns minutos, se tornando desprezível, mas nunca perdendo o carisma. Scorsese e DiCaprio constroem um anti-herói que leva o público nas mãos, sempre fazendo com que a plateia, mesmo vendo todos os atos corruptos do homem, torça para que, no final, tudo acabe bem. As atuações, aliás, são memoráveis. Matthew McConaghey aparece em breves momentos e deixa sua presença pelo resto do filme, mesmo sem aparecer mais durante a narrativa. Jonan Hill e Rob Reiner tem um timing cômico genial, e suas tiradas ao longo do filme são capazes de arrancar gargalhadas da platéia. E O Lobo de Wall Street tem o mérito de não ser aquele tipo de filme que carrega uma ou duas qualidades que o salvam, já que, além da direção segura e ágil de Scorsese e das atuações, traz uma montagem inspiradíssima e frenética, criando cenas geniais, como aquela quando o agente do FBI chega ao iate de Berlfort para conversar. Ou ainda quando Scorsese brinca com o número de escadas (e com a mente da plateia) em uma determinada cena.

É interessante perceber a inteligência de Scorsese em deixar que o público decida o que fará com o que é mostrado na tela. Se ao mesmo tempo temos uma cena divertida (e louca) dos funcionários de Berlfort transando e usando drogas dentro da empresa, a câmera nos obriga a assistir a humilhação de uma mulher ao ter seus cabelos raspados por causa de uma aposta. Com planos que focam seu olhar desesperado, somos trazidos de volta à realidade daquele mundo que parece extremamente divertido. Ou quando estamos rindo com o desespero de Berlfort, completamente drogado, para conseguir entrar em sua casa e impedir que uma determinada personagem faça uma besteira, para logo depois percebermos que uma criança está presenciando tudo aquilo com um olhar assustado. E ao mesmo tempo em que percebemos que tudo aquilo é errado, a penúltima cena nos questiona se, no final do dia, fazer o bem e trazer justiça realmente levam a paz de espírito para os "bem feitores".


Com alguns minutos a mais do que o necessário, o que o faz perder um pouco do ritmo na segunda parte, O Lobo de Wall Street traz de volta a mente insana de Martin Scorsese, que, aos 71 anos, se mostra em perfeita forma para direção, desbravando o submundo sedutor e cheio de extravagâncias dos crimes dos poderosos de Wall Street. Mas mesmo com a divisão de opinião se o filme é uma crítica ou um brinde a uma vida promíscua, e mesmo quem estranhe toda a ambiguidade presente na obra, a única coisa certa a dizer é que já passou da hora de Leonardo DiCaprio levar um Oscar para casa.

Oscar - Indicações

Melhor Filme
Melhor Diretor
Melhor Ator (Leonardo DiCaprio)
Melhor Ator Coadjuvante (Jonah Hill)
Melhor Roteiro Adaptado

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Veja os indicados ao Oscar 2014


O Irritando Rodrigo Fará uma maratona com as críticas de todos os filmes indicados :)

"Trapaça"
e "Gravidade" são os principais concorrentes ao Oscar 2014, disputando dez categorias cada um, conforme anúncio feito pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood na manhã desta quinta-feira (16). A cerimônia de entrega da 86ª edição acontece no dia 2 de março, em Los Angeles.

A lista foi divulgada pelo ator Chris Hemsworth, astro do blockbuster "Thor", ao lado da presidente da Academia de Hollywood, Cheryl Boones Isaacs. O longa "12 anos de escravidão" aparece em seguida na lista, com nove indicações, concorrendo a melhor filme e melhor diretor.

Vencedor de três prêmios do Globo de Ouro, "Trapaça" foi indicado a todas as categorias principais, como, por exemplo, por seu elenco: Christian Bale para melhor ator; Amy Adams para melhor atriz; Bradley Cooper para ator coadjuvante; e Jennifer Lawrence para atriz coadjuvante.

"Gravidade" recebeu indicações nas categorias técnicas, como fotografia; edição; edição de som; mixagem de som; efeitos visuais; e design de produção. A atriz Meryl Streep – com 18 indicações até hoje –, o diretor e roteirista Woody Allen – com 24 – e o compositor John Williams – com 48 – são os recordistas do Oscar e aparecem novamente na disputa pelo prêmio.

Entre os esnobados pela Academia estão Tom Hanks, de "Capitão Philips", que era esperado na categoria de melhor ator; e Oprah Winfrey, por "O mordomo da Casa Branca", de Lee Daniels, como melhor atriz coadjuvante.

Os inusitados "Jackass apresenta: Vovô sem vergonha" e "O cavaleiro solitário", com Johnny Depp, foram indicados ao Oscar de melhor maquiagem e cabelo. O longa de Depp também disputa efeitos visuais.

A produção brasileira inscrita para concorrer ao prêmio de melhor filme em língua estrangeira, "O som ao redor", de Kléber Mendonça Filho, já está fora da disputa desde o dia 20 de dezembro, quando foi divulgada uma lista de nove pré-selecionados para a categoria.

Veja abaixo a lista completa dos indicados:

Melhor filme

Trapaça
Capitão Phillips
Clube de Compras Dallas
Gravidade
Ela
Nebraska
Philomena
12 Anos de Escravidão
O Lobo de Wall Street

Melhor diretor

David O. Russell - Trapaça
Sandra Bullock em 'Gravidade'
Alfonso Cuarón - Gravidade
Steve McQueen - 12 Anos de Escravidão
Martin Scorsese - O Lobo de Wall Street
Alexander Payne - Nebraska

Melhor atriz

Cate Blanchett - Blue Jasmine
Amy Adams - Trapaça
Sandra Bullock - Gravidade
Judi Dench - Philomena
Meryl Streep - Álbum de Família
Melhor ator

Cena de '12 anos de escravidão'
Christian Bale - Trapaça
Bruce Dern - Nebraska
Leonardo DiCaprio - O Lobo de Wall Street
Chiwetel Ejiofor - 12 Anos de Escravidão
Matthew McConaughey - Clube de Compras Dallas

Melhor ator coadjuvante

Barkhad Abdi - Capitão Phillips
Bradley Cooper - Trapaça
Michael Fassbender - 12 Anos de Escravidão
Jonah Hill - O Lobo de Wall Street
Jared Leto - Clube de Compras Dallas

Melhor atriz coadjuvante
Jennifer Lawrence e Amy Adams em 'Trapaça'

Sally Hawkins - Blue Jasmine
Jennifer Lawrence - Trapaça
Lupita Nyong'o - 12 Anos de Escravidão
Julia Roberts - Álbum de Família
June Squibb - Nebraska

Melhor canção original

"Alone Yet Not Alone" - Alone Yet Not Alone
"Happy" - Meu Malvado Favorito 2
"Let it Go" - Frozen - Uma Aventura Congelante
"The Moon Song" - Ela
"Ordinary Love" - Mandela

Melhor roteiro adaptado

Antes da Meia-Noite
Capitão Phillips
Philomena
12 Anos de Escravidão
O Lobo de Wall Street

Melhor roteiro original

Trapaça
Blue Jasmine
Clube de Compras Dallas
Ela
Nebraska

Melhor longa de animação

Os Croods
Meu Malvado Favorito 2
Ernest & Celestine
Frozen - Uma Aventura Congelante
The Wind Rises

Melhor documentário em longa-metragem

The Act of Killing
Cutie and the Boxer
Dirty Wars
The Square
20 Feet From Stardom

Melhor longa estrangeiro

The Broken Circle Breakdown
A Grande Beleza
A Caça
The Missing Picture
Omar

Melhor fotografia

O Grande Mestre
Gravidade
Inside Llewin Davis: Balada de um Homem Comum
Nebraska
Os Suspeitos

Melhor figurino

Trapaça
O Grande Mestre
O Grande Gatsby
The Invisible Woman
12 Anos de Escravidão

Melhor documentário em curta-metragem

CaveDigger
Facing Fear
Karama Has No Walls
The Lady in Number 6: Music Saved My Life
Prison Terminal: The Last Days of Private Jack Hall

Melhor montagem

Trapaça
Capitão Phillips
Clube de Compras Dallas
Gravidade
12 Anos de Escravidão

Melhor maquiagem e cabelo

Clube de Compras Dallas
Vovô Sem-Vergonha
O Cavaleiro Solitário

Melhor trilha sonora

A Menina que Roubava Livros
Gravidade
Ela
Philomena
Walt nos Bastidores de Mary Poppins
Melhor design de produção

Trapaça
Gravidade
O Grande Gatsby
Ela
12 Anos de Escravidão

Melhor animação em curta-metragem

Feral
Get a Horse!
Mr. Hublot
Possessions
Room on the Broom

Melhor curta-metragem

Aquel No Era Yo (That Wasn't Me)
Avant Que De Tout Perdre (Just Before Losing Everything)
Helium
Pitääkö Mun Kaikki Hoitaa? (Do I Have to Take Care of Everything?)
The Voorman Problem

Melhor edição de som

Até o Fim
Capitão Phillips
Gravidade
O Hobbit - A Desolação de Smaug
O Grande Herói

Melhor mixagem de som

Capitão Phillips
Gravidade
O Hobbit - A Desolação de Smaug
Inside Llewin Davis: Balada de um Homem Comum
O Grande Herói

Melhores efeitos visuais

Gravidade
O Hobbit - A Desolação de Smaug
Homem de Ferro 3
O Cavaleiro Solitário
Star Trek - Além da Escuridão

Informações: G1

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Conheça os indicados ao Globo de Ouro 2014


A associação de imprensa estrangeira divulgou hoje os indicados ao Globo de Ouro nas categorias cinema e televisão.

Os nomes foram anunciados por Olivia Wilde (House), Zoe Saldana (Star Trek) e Aziz Ansari (Parks and Recreation).

A cerimônia de entrega do prêmio será realizada no dia 12 de janeiro, em evento que contará com Tina Fey (30 Rock) e Amy Poehler (Parks and Recreation), como mestres de cerimônia.

Os filmes 12 Years a Slave e Trapaça lideram a lista, com sete indicações cada. Entre as categorias de TV, a série House of Cards e o telefilme Behind the Candelabra são as produções que mais receberam indicações, com quatro cada uma. Homeland e Mad Men não aparecem entre os indicados desta edição.

Veja os principais indicados ao Globo de Ouro 2014:

Melhor filme – Drama
"12 years a slave"
"Capitão Phillips"
"Gravidade"
"Philomena"
"Rush: No limite da emoção"

Melhor filme – Comédia ou musical
"Trapaça"
"Her"
"Inside Llewyn Davis – Balada de um homem comum"
"Nebraska"
"O lobo de Wall Street"

Melhor ator – Drama
Chiwetel Ejiofor, de "12 years a slave"
Idris Elba, de "Mandela"
Tom Hanks, de "Capitão Phillips"
Matthew McConaughey, de "Dallas Buyers Club"
Robert Redford, de "All is lost"

Melhor atriz – Drama
Cate Blanchett, de "Blue Jasmine"
Sandra Bullock, de "Gravidade"
Judy Dench, de "Philomena"
Emma Thompson, de "Walt nos bastidores de Mary Poppins"
Kate Winslet, de "Refém da paixão"

Jennifer Lawrence e Amy Adams em 'Trapaça'
(Foto: Divulgação)
Filme '12 years a slave', ao lado de 'Trapaça', tem
sete indicações ao Globo de Ouro 2014
(Foto: AP Photo/Fox Searchlight Films)
Melhor atriz – Comédia ou musical
Amy Adams, de "Trapaça"
Julie Delpy, de "Antes da meia-noite"
Greta Gerwig, de "Frances Ha"
Julia Louis-Dreyfus, de "À procura do amor"
Meryl Streep, de "Álbum de família"

Melhor ator – Comédia ou musical
Christian Bale, de "Trapaça"
Bruce Dern, de "Nebraska"
Oscar Isaac, de "Inside Llewyn Davis – Balada de um homem comum"
Joaquin Phoenix, de "Her"
Leonardo DiCaprio, de "O lobo de Wall Street"
Amy Adams e Christian Bale em 'Trapaça'
(Foto: Divulgação)

Melhor ator coadjuvante
Barkhad Abdi, de "Capitão Phillips"
Daniel Bruhl, de "Rush"
Bradley Cooper, de "Trapaça"
Michael Fassbender, de "12 years a slave"
Jared Leto, de "Dallas Buyers Club"

Melhor atriz coadjuvante
Sally Hawkins, de "Blue Jasmine"
Jennifer Lawrence, de "Trapaça"
Lupita Nyong'o, de "12 years a slave"
Julia Roberts, de "Álbum de família"
June Squibb, de "Nebraska"

Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux em
'Azul é a cor mais quente' (Foto: Divulgação)
Melhor diretor
Alfonso Cuaron, de "Gravidade"
Paul Greengrass, de "Capitão Phillips"
Steve McQueen, de "12 years a slave"
Alexander Payne, de "Nebraska"
David O. Russell, de "Trapaça"

Melhor roteiro
Spike Jonze, de "Her"
Bob Nelson, de "Nebraska"
Jeff Pope Steve, de "Philomena"
John Ridley, de "12 years a slave"
David O. Russell, de "Trapaça"

Melhor filme estrangeiro
“Azul é a cor mais quente”, da França
“A grande beleza”, da Itália
“A caça”, da Dinamarca
“O passado”, do Irã
“Vidas ao vento”, do Japão

Melhor canção original
"Atlas", de Chris Martin ("Jogos vorazes: Em chamas")
"Let it go", de Kristen Anderson Lopez e Robert Lopez ("Frozen: Uma aventura congelante")
"Ordinary love", do U2 ("Mandela: Long walk to freedom")
"Please Mr. Kennedy", de Ed Rush, George Cromarty, T Bone Burnett, Justin Timberlake, Joel Coen e Ethan Coen ("Inside Llewyn Davis – Balada de um homem comum")
"Sweeter Than Fiction", de Taylor Swift ("One chance")

Melhor trilha original
"All is lost"
"Mandela: Long walk to freedom"
"Gravidade"
"A menina que roubava livros"
"12 years a slave"

Melhor animação
“Os Croods”
“Frozen: Uma aventura congelante”
“Meu malvado favorito 2”

— TV

Melhor série de TV – Drama
Kevin Spacey em 'House of Cards'
(Foto: Divulgação/Netflix)
"Breaking bad"
"Downton Abbey"
"The good wife"
"House of cards"
"Masters of sex"

Melhor ator em série de TV – Drama
Bryan Cranston, de "Breaking bad"
Liev Schreiber, de "Ray Donovan"
Michael Sheen, de "Masters of sex"
Kevin Spacey, de "House of cards"
James Spader, de "The blacklist"

Melhor atriz em série de TV – Drama
Julianna Margulies, de "The good wife"
Tatiana Maslany, de "Orphan black"
Taylor Schilling, de "Orange is the new black"
Kerry Washington, de "Scandal"
Robin Wright, de "House of cards"
Jesse Tyler Ferguson e Sofia Vergara em
'Modern family' (Foto: Divulgação)

Melhor série de TV – Musical ou comédia
"The big bang theory"
"Brooklyn Nine-Nine"
"Girls"
"Modern family"
"Parks and recreation"

Melhor ator em série TV – Comédia ou musical
Jason Bateman, de "Arrested development"
Don Cheadle, de "House of lies"
Michael J. Fox, de "The Michael J. Fox Show"
Jim Parsons, de "The big bang theory"
Andy Samberg, de "Brooklyn Nine-Nine"

Melhor atriz em série de TV – Comédia ou musical
Zooey Deschanel, de "New girl"
Edie Falco, de "Nurse Jackie"
Lena Dunham, de "Girls"
Julia Louis Dreyfus, de "Veep"
Amy Poehler, de "Parks and recreation"

Melhor minissérie ou filme para TV
"American horror story: Coven"
"Behind the candelabra"
"Dancing on the edge"
"Top of the lake"
"White queen"

Michael Douglas e Matt Damon em 'Behind the
Candelabra' (Foto: Divulgação)
Melhor ator em minissérie ou filme para a TV
Matt Damon, de "Behind the candelabra"
Michael Douglas, de "Behind the candelabra"
Chiwetel Ejiofor, de "Dancing on the edge"
Idris Elba, de "Luther"
Al Pacino, de "Phil Spector"

Melhor atriz em minissérie ou filme para a TV
Helena Bonham Carter, de "Burton and Taylor"
Rebecca Ferguson, de "White queen"
Jessica Lange, de "American horror story: Coven"
Helen Mirren, de "Phil Spector"
Elisabeth Moss, de "Top of the lake"

Melhor atriz coadjuvante em série, minissérie ou filme para TV
Jacqueline Bisset, de "Dancing on the edge"
Janet McTeer, de "White queen"
Hayden Panattiere, de "Nashville"
Monica Potter, de "Parenthood"
Sofia Vergara, de "Modern family"

Melhor ator coadjuvante em série, minissérie ou filme para a TV
Josh Charles, de "The good wife"
Rob Lowe, de "Behind the candelabra"
Aaron Paul, de "Breaking bad"
Corey Stoll, de "House of cards"
John Voight, de "Ray Donovan"

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Crítica: Invocação do Mal


Amanhã, sexta-feira 13, estreia mais um filme de terror e o pessoal do marketing insiste em achar que basta lançá-lo em uma data mística que o sucesso será certo. Felizmente, para Invocação do Mal (The Conjuring, EUA, 2013), é bem provável que o público brasileiro corra para o cinema, já que o burburinho anda crescendo a cada notícia ou trailer divulgado. O filme já estreou nos EUA há quase 3 meses e vem sendo aclamado pela crítica como o melhor filme do gênero desde O Exorcista

Só em seu final de semana de estreia lá fora, arrecadou US$ 41,9 milhões, foi a maior abertura para um filme de terror com história original, maior abertura em três dias de um filme de terror da Warner Bros. e a maior abertura do diretor James Wan, mais conhecido pelo seu trabalho no primeiro longa da série Jogos Mortais.

Pois bem, criaram o clima e colocaram a expectativa nas alturas. Foi com essa expectativa que assisti ao longa, esperando um  respiro e originalidade para um gênero que vem sofrendo de roteiros pobres. Mas contrariando as dezenas de críticas favoráveis, Invocação do Mal é bom apenas se considerarmos os últimos lançamentos dos EUA. O que não quer dizer muita coisa.

Baseado em uma história real (claro), o longa acompanha os demonologistas Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), mundialmente conhecidos, chamados para ajudar uma família que está sendo assombrada por fenômenos sobrenaturais em uma casa de fazenda isolada. Obrigados a enfrentar uma entidade demoníaca poderosa, os Warrens se veem presos ao caso mais aterrorizante de suas vidas.

A partir disso, encontramos tudo o que já é esperado: a casa assustadora que fica no meio do mato, muitas folhas secas, uma família feliz querendo mudar de vida, fenômenos estranhos, portas batendo, sombras no corredor, o truque do espelho e por aí vai. A diferença está na direção segura de James Wan, que consegue a proeza de deixar seu filme elegante. Se fosse na mão de qualquer outro diretor mais inexperiente, o longa poderia ser só mais uma sucessão de clichês usados de maneira preguiçosa. Aqui, me permitam a contradição, o clichê é usado de forma inteligente, embora você já tenha visto tudo aquilo em, no mínimo, uns dez filmes só este ano. Wan não foge do lugar comum e nem parece tentar, mas consegue se mover em um terreno incansavelmente explorado. Seu trabalho anterior, Assombração (Insidious, EUA, 2010) já mostrava sinais de que o diretor trabalhava em cima de situações já conhecidas, mas tentava trazer o estilo dos filmes de terror clássicos ao invés de colocar adolescentes sem camisa em uma cabana no meio da floresta. Wan parece ter aprendido que esses recursos clássicos ainda funcionam, mas que pequenos detalhes fazem a diferença na reação do público.

Ao invés de enquadramentos padrões, Wan passeia com a câmera em travellings que fazem o público entrar em todos os cômodos da casa e se aproximar da família. Wan constrói a narrativa sem apelar para sustos fáceis e não entrega o jogo logo de cara. Em momentos pontuais, trabalha com o escuro, ruídos, espíritos aparecendo atrás da pessoas, ou pior, debaixo da sua cama. A trilha sonora aparece para fazer a tensão crescer, mas desaparece em momentos certos. Algumas sequências podem realmente assustar, como um jogo de "esconde-esconde" bizarro ou uma boneca demoníaca. Wan bebe de referência de outros filmes de sucesso, como Horror em Amytiville (que, aliás, é um outro caso real que foi investigado pelo casal Warren e que ganha uma pequena homenagem no final), O Exorcista e Os Pássaros. As atuações de Lili Taylor, Vera Farmiga e Patrick Wilson complementam o que é necessário para um filme de terror: convencimento. As expressões de Vera, ás vezes, assustam mais do que as as próprias entidades demoníacas.


Mas o problema é o exagero. Dizer que é o melhor filme de terror dos últimos tempos é criar uma expectativa que mais parece um desespero para que o público, após assistir, ache mesmo que é a obra mais assustadora do cinema. O roteiro é pobre e cheio de furos, embora possa ser um belo exemplo de como uma direção, raramente, consegue salvar boa parte de um filme. Aqui, ainda com todos os acertos já ditos, tudo continua sendo óbvio e o público sabe todos os passos das personagens.

A obra merece elogios por fazer a audiência tomar susto sem precisar abusar de uma edição com efeitos especiais ou jogos de câmera que aplicam sustos sem nada ter a ver com a narrativa. Embora não se encontre nenhuma novidade, o diretor entende que o espírito de um filme de terror é a tensão e o clima.

Não deixa de ser uma mistura de clichês sem vergonha, mas com um material reciclável usado com bastante habilidade.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Muito mais que uma caça-vampiros


Aproveitando a ótima notícia de que, a partir de julho, o Netflix exibirá todas as temporadas de Buffy - A Caça-Vampiros, decidi rever vários episódios da série e escrever um novo post. Eu já havia falado sobre Buffy aqui no blog, mas achei que o texto estava preguiçoso e não explicava realmente o que a série significa para a cultura pop e nem causava o efeito pretendido: fazer você, leitor, assistir a uma das melhores coisas já feitas na televisão. Então, vamos lá!

Nos Estados Unidos, quando as principais séries encerram suas temporadas, os canais sobrevivem de reprises e de pequenas produções, geralmente com 12 episódios cada, para tapar buraco. Esse período é conhecido como mid-season, no qual as emissoras não esperam audiências muito significativas, somente o necessário para manter seu público fiel. Foi assim que, no verão americano de 1997, a Warner lançou Buffy - A Caça-Vampiros. O projeto saiu da cabeça do até então desconhecido Joss Whedon, que já havia escrito um roteiro para o cinema, que gerou o fracassado filme homônimo, lançado em 1993. A ideia de Joss era satirizar a clássica história da garota loira que entra no beco escuro e é morta em cada filme de terror. O filme foi um um fracasso comercial e de crítica. Em entrevista, Whedon declarou que tinha escrito um filme assustador sobre uma mulher com poderes, mas o estúdio transformou-o em uma comédia tosca. A produção foi tão mal recebida que existem listas que a consideram uma das piores da história do cinema. Portando, não tenha curiosidade de vê-la. É realmente ruim.

Mas, quatro anos depois, o produtor Gail Berman resolveu reler o roteiro de Whedon e decidiu dar uma nova chance à história. Para Whedon, Buffy era a mistura de dois grandes sucessos da televisão da época: Barrados no Baile, sobre a vida de adolescentes num condado da California,  e Arquivo X, suspense sobrenatural que já havia se tornado febre. Em 1996, a Warner deu sinal verde e encomendou os 12 episódios que formariam a primeira temporada da série.


Em uma nada badalada terça-feira de março, Buffy estreou. Com um orçamento limitadíssimo - US$ 3 milhões para a produção de toda temporada - o primeiro ano é marcado pelo trash, que acabou caindo no gosto popular. Nos anos seguintes, cada episódio custaria cerca de US$ 2,3 milhões. O que começou bem cafona e engraçado, se tornou referência quando conversa-se sobre televisão. Mais de dez anos após sua estreia, Buffy já foi citada como a segunda melhor série de todos os tempos pela revista Empire e a nona pela Entertainment Weekly e o episódio musical (falaremos dele mais tarde) ocupa o sexto lugar na lista de episódios mais memoráveis dos seriados da televisão da revista TV Guide.

No início, a trama mostra Buffy (Sarah Michelle Gellar, que vai encontrando o tom certo durante a série), a escolhida para enfrentar as forças do mal e mantê-la longe do mundo dos homens. Ao seu lado, estão seus amigo Xander (Nicholas Brendon) e Willow (Alyson Hannigan). Buffy ainda conta com o seu guardião Giles (Antony Stewart Head) e do vampiro Angel (David Boreanaz), que devido a uma maldição cigana, teve sua alma resgatada e agora é do bem. Tudo isso acontecia em Sunnydale, conhecida como a Boca do Inferno. Com uma sinopse tão boba, Buffy torna-se uma série difícil de indicar. Sua primeira temporada é fraca e facilmente descartável, já que não acrescenta muita coisa à narrativa, embora seja interessante ver como tudo começou. 

O nome Joss Whedon, hoje, é sinônimo de respeito. O diretor tornou-se um dos mais cultuados representantes do mundo nerd. Depois de Buffy, ele entrou para o time de roteiristas da Marvel, fez crescer sua produtora e roteirizou e dirigiu mega sucessos, como "Os Vingadores". Whedon parece ter crescido junto com Buffy e sua direção é notória no decorrer dos anos. Durante suas sete temporadas, Buffy saiu da zona de conforto diversas vezes, fazendo com que a série tivesse episódios geniais que são imitados até hoje.


 Hush é um dos mais corajosos episódios da televisão. Cansado de ouvir que Buffy só era boa pelos seus diálogos, Whedon foi lá e dirigiu um episódio com apenas 17 minutos de conversa, fazendo com que os moradores de Sunnydale ficassem sem voz. Um simples caso da semana virou o melhor episódio da história da série, ao menos na opinião dos críticos. No sexto ano, ao invés do silêncio, temos um episódio musical que resolve alguns arcos narrativos.


O que era bobinho tornou-se sério e cruel. Já na segunda temporada, vemos Buffy ter que lutar contra seu grande amor, quando Angel perde sua alma e volta a ser o vampiro cruel de 200 anos atrás. O galã da série acabou sendo um dos melhores vilões, firmando a segunda temporada como uma das mais surpreendentes e tensas. Depois, temas como amor, traição, homossexualidade e morte se tornariam recorrentes. The Body é um exemplo de como Joss Whedon é brilhante. Focado na morte da mãe de Buffy, o episódio é marcado pela ausência de uma trilha sonora. Em entrevista, o diretor declarou que seu objetivo era passar ao público que a morte não vem com uma música calma e reconfortante e não há o que fazer. Buffy chega em casa e encontra sua mãe morta. Não há demônios nem vampiros, apenas a morte natural. Com uma atuação inspiradíssima de Sarah Michelle Gellar, o impacto desse episódio é importantíssimo para entender a qualidade de toda a série. A pedido de Whedon, a cena toda foi feita sem cortes, exigindo de Sarah sua entrega total, o que conseguimos ver quando ela tenta reanimar sua mãe e diz: "Ela está fria...". Mesmo sendo a heroína da série, nem ela - nem o público - podem fazer alguma coisa. Mais assustador que monstros, é a própria vida.

Se Buffy segurava a série, os personagens secundários tinham o mesmo nível de importância. O crescimento de Willow durante os 7 anos é admirável, principalmente no sexto ano, quando ela acaba flertando com o mal e, nos dois últimos episódios da temporada, se torna a vilã. Assim como Anya, que era um demônio qualquer de um caso da semana e vira um importante e inesquecível personagem recorrente. Joss Whedon não tinha medo de arriscar: se livrou de personagens sem medo, colocou uma irmã para a protagonista na quinta temporada que não havia sido menciona nas quatro temporadas anteriores e a transformou no principal arco narrativo daquele ano. Ele também tirou o par romântico da protagonista e criou uma série própria para ele. Angel durou 5 anos.

Buffy durou 7 anos e teve história do início ao fim. A série tinha espaço para complexas tramas existenciais, metáforas sobre o consumo de drogas, morte, maturidade e agonia existencialista. É uma série sobrenatural, mas poderia não ser. O mais admirável (e assustador) em Buffy, é sua maneira de nos mostrar como enfrentar os demônios pessoais. 

Logo abaixo, você encontra uma lista dos melhores e importantes episódios da série


Aproveite que o Netflix exibirá todas as temporadas. Os DVDs, no Brasil, já não estão disponíveis e a sexta e sétima temporada nunca foram lançadas. Não tenha preconceito, vá atrás. Buffy será uma das melhores experiência televisivas que você poderá ter. 


Os 10 melhores episódio de Buffy - A Caça-Vampiros


10. Passion (2ª temporada) - Se a série vinha passando por momentos engraçados e leves, a partir daqui o clima muda completamente. Angel mostra seu lado perigoso e mata uma importante personagem secundária.






09. Innoocence/Becoming - Parte II (2ª temporada) - Imagine ter sua primeira noite com o amor da sua vida e descobrir que, se o cara tivesse um único momento de felicidade, ele voltaria a ser dominado pelo lado obscuro e cruel. Joss Whedon não teve medo de arriscar e fez o galã da série se transformar no vilão mais cruel de todas as temporadas. E não há final feliz.




08. The Gift (5ª temporada) - Ainda sobre a coragem de Joss Whedon, este episódio termina com outra decisão difícil para Buffy: ao invés de matar sua irmã, mesmo sendo a única forma de evitar o apocalipse, Buffy descobre que seu destino é a própria morte e acaba se sacrificando. Antes de morrer, diz a frase que ainda é repetida pelos fãs da série: a pior coisa dessa mundo é viver nele.



07. Conversations With Dead People (7ª temporada) - Buffy nunca foi uma história de terror, podendo ser melhor classificada como drama. Mas, aqui, a série foca em tensão psicológica e terror de verdade, quando todas as personagens centrais da série enfrentam seus maires medos por meio de conversas com pessoas que já morreram. 






06. Grave (6ª temporada) - Perturbada após a morte de sua namorada Tara, Willow decide se vingar dos assassinos, mostrando seu lado negro. Porém, ela se volta contra Buffy e protagoniza um duelo de magia com Giles e decide destruir tudo ao seu redor quando percebe que a dor dos seres humanos nunca acabará.






05. Normal Again (6ª temporada) - Buffy acorda em um hospício e descobre não só que sua mãe está viva, como seus pais ainda são casados. O médico diz que tudo o que ela viveu nos últimos anos não passou de um delírio.






04. The Wish (3ª temporada) - O que aconteceria se Buffy nunca tivesse chego a Sunnydale? Este episódio responde esta pergunta com um episódio no qual os vampiros dominam a cidade e Giles reúne um grupo de rebeldes para reverter a situação. O destaque fica com Willow, que não é nem de longe a menina tímida dos outros episódios. The Wish também apresenta a demônio Anya. que viria a ser uma das melhores personagens da série.



03. Hush (4ª temporada) - Um grupo de demônios, elegantes e bem vestidos (tirando o rosto) chega a Sunnydale e decide roubar a voz de todos os habitantes. Por quê? Eles se alimentam de corações e, se escutarem um grito humano, suas cabeças explodem. O resultado é o sensacional episódio com mais de 30 minutos sem nenhum diálogo.


02. Once More, With Feeling (6ª temporada) - Se hoje muitas séries fazem seus episódios musicais, a inspiração certamente vem de Buffy. Um demônio é invocado e transforma a vida de todos em um musical, mas nem tudo é o que parece: ao cantar, as pessoas revelam seus mais profundos e íntimos segredos, magoando uns aos outros. A trilha sonora foi uma grande sucesso na época e atualmente é uma peça da Broadway.



01. The Body (5ª temporada) - Durante todos os episódios, o público tinha certeza que, mesmo quando algo muito ruim acontecia, se você estivesse perto de Buffy, tudo acabaria bem. Porém, no 16º episódio do quinto ano, a série trouxe uma carga dramática em seus 42 minutos que muitas séries não conseguem em anos. Buffy chega em casa e encontra sua mãe morta no sofá. Desde o momento em que Buffy fica em estado de choque ao constatar que sua mãe está fria até o momento em que ela percebe que sua mãe, de fato, morreu, o público não é poupado. Não há demônios para se enfrentar nem vampiros para matar. As personagens recebem um choque de realidade quando precisam enfrentar a única coisa da qual eles não podem impedir: a morte natural. A direção desse episódio - caracterizada pela ausência de trilha sonora - é impecável.

domingo, 5 de maio de 2013

O enigma de Kaspar Hauser e a sociedade atual



O segredo para viver em sociedade é adaptar-se aos seus costumes, enraizados desde o momento em que uma pessoa nasce. Para muitos, não há outra forma a não ser aceitar esse condicionamento. Quem não concorda, sofre as consequências de uma imposição cruel. Resumidamente, "O Enigma de Kaspar Hauser" (Jeder für sich und Gott gegen alle, Alemanha, 1974) dirigido pelo alemão Werner Herzog (nome influente no Novo Cinema Alemão), é o reflexo de uma sociedade que aponta o dedo e acusa sem medo.

A trama baseia-se na história real de um homem que, em 1828, em Nuremberg, na Alemanha, é encontrado em pé no meio de uma praça segurando uma carta e levando alguns livros de orações e um punhado de ouro. O homem é Kaspar Hauser, criado dentro de um cativeiro por 20 anos, amarrado por uma corrente ao chão, sendo alimentado todo dia e vivendo com um cavalo de brinquedo. Sem saber falar ou andar, Kaspar aprende o básico para ser deixado na cidade, onde é acolhido por uma família, enquanto aprende a falar e a exercer algumas funções para pagar o cuidado que recebe dos cidadãos. 

Embora a história pareça melodramática, não há cenas sentimentais escancaradas. Herzog filma com frieza e não parece preocupado em fazer o público simpatizar com qualquer personagem. Kaspar se afasta das regras e aprende a conviver com outras pessoas, mas apenas para se dar conta que não tem o menor interesse nelas. Não é à toa que o título alemão seja "Cada um por si e Deus contra todos", frase que Herzog retirou do filme brasileiro "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade.



Para viver o nada comum Kaspar Hauser, o diretor escolheu um ator também incomum: Bruno S., filho de uma prostituta, ficou internado em um hospício também por 20 anos. Em certos momentos, o desconforto de alguns atores quando contracenam com ele é visível. Às vezes olha diretamente para a câmera, anda sem rumo, sai de cena, parece genuinamente perdido. Sua reação quando segura pela primeira vez um bebê e entende o que é mãe, ou quando percebe que o fogo queima, faz de Bruno o ator perfeito para o papel, sendo difícil imaginar qualquer outro em seu lugar. 


O filme se permite criar pequenos momentos agradáveis ao público, mas logo lembramos que trata-se de uma história sobre a adaptação de Kaspar à sociedade. O longa é permeado por diversas cenas brilhantes, como a do professor de matemática que tenta fazer com que o o homem entenda o que é lógica; Kaspar procura entender por que as mulheres só ficam sentadas, limpando ou cozinhando; religiosos o obrigam a ter fé em Deus, no que Kaspar responde com sabedoria: "Primeiro, preciso aprender a ler e escrever direito. Depois, eu penso em aprender o resto". Kaspar, sempre inquieto e impaciente, questiona-se a todo momento: Por que as maçãs amadurecem? Com podem dizer que Deus criou tudo a partir do nada? Sua frustração é palpável quando o respondem sem pestanejar: "Você deve acreditar no mistério da fé, sem procurar entender". Respostas muito parecidas são proferidas até hoje por certas instituições, na tentativa quase insana de doutrinar pessoas a todo custo.


Completamente autoral, Herzog faz um trabalho de direção magnífico, desde os enquadramentos dos momentos oníricos de Kaspar, a fotografia melancólica, as atuações sóbrias, frias e convincentes. 



No final, o gosto na boca do público torna-se agridoce. Ao mesmo tempo em que é divertida a percepção de Kaspar sobre algumas sensações, objetos e costumes, somos obrigados a ver o retrato de uma sociedade que julga e penaliza. Vemos o certo e o errado ganhando destaque pela visão de pessoas com valores, princípios e ética já bem delimitados. Kasper sofre por ser diferente e a sociedade o julga por medo do diferente. E se pensarmos que os acontecimentos desta história se passam em 1828, a experiência torna-se ainda mais perturbadora quando percebemos que, em 2013, pouca coisa mudou.


Kaspar Hauser morreu jovem. Em seu túmulo, na Alemanha, está escrito: "Aqui jaz um desconhecido assassinado por um desconhecido."





quinta-feira, 21 de março de 2013

Psicose semanal



É pretensão, mas eles fizeram: baseado nas personagens do livro "Psycho", de Robert Bloch, e no clássico filme homônimo dirigido por Alfred Hitchcock em 1960, Bates Motel propõe-se a contar o prelúdio de uma das histórias mais perturbadoras e famosas do cinema. E os produtores -- Carlton Cuse ("Lost") e Kerry Ehrin ("Friday Night Lights") -- fazem questão de mostrar isso nos créditos finais e nos dar a impressão de que acompanharemos, nos 10 episódios da nova série do canal A&E que estreou essa semana, nos EUA, um grande adendo a uma obra que, teoricamente, não precisava ser remexida. 

A crítica anda dizendo que o episódio piloto e os conflitos psicológicos apresentados lembram muito Hitchcock, mas vamos com calma. Bates Motel apresenta a adolescência de Norman Bates e a forma como ele se relaciona com sua mãe, Norma Bates. A série pretende mostrar como o rapaz se transformou no assassino que o mundo conhece. 

Logo, o interessante da série, pelo menos neste primeiro episódio, está na escolha dos produtores em mesclar o clima retrô feito por Hitchcock e o os dias atuais. Os Bates mudam-se para uma casa antiga e usam roupas formais, Norman ouve música clássica, assiste a filmes antigos, cita livros clássicos e o carro da família não é nada novo. Mas eles possuem iPhone. Embora esse conflito cause uma pequena quebra de clima, a direção segura consegue manter a tensão necessária. Outro acerto é atmosfera de estranheza que causa incômodo e que, afinal, é o grande trunfo de "Psicose".

São nas atuações que a série encontra seus maiores acertos. Vera Farmiga entrega uma mãe fria, frágil, manipuladora, opressora e todas as característica de uma pessoa com síndrome do ninho vazio. O filho, interpretado por Freddie Highmore (o garotinho do remake de "A Fantástica Fábrica de Chocolates"), aparece perfeito com suas inseguranças, medos, descobertas e o sentimento claustrofóbico causado pela mãe e que, consequentemente, é transmitido ao público A interação das duas personagens funciona muito bem, alcançando o efeito necessário: o bizarro  daquela relação entre mãe e filho.

Ainda é cedo para falar que a série é um grande acerto, já que alguns diálogos soam um pouco forçados e didáticos, apenas pra mostrar que a mãe é manipuladora e o menino sofrerá as consequências, coisas que a própria atuação já aponta. Se analisarmos a série sem pensar no filme, temos uma história padrão, em que uma família estranha se muda para uma casa bizarra em uma cidade esquisita. Nada muito novo. Alguns dramas destacados no piloto parecem querer mostrar ao telespectador "veja, veja, é aqui que você deve prestar atenção".

Mas o que foi exibido promete: clima de suspense, cenas fortes, problemas psicológicos visíveis e várias homenagens ao clássico de Hitchcock. Só não sei como eles podem desenvolver a narrativa sem que pareça uma simples série sobre um filho que é sufocado pela mãe. Mas foi uma grata surpresa voltar a se hospedar no Bates Motel.